No último artigo, falámos-lhe sobre Hiperatividade e Défice de Atenção (se lhe escapou, dê uma vista de olhos aqui). Agora que já está alerta para este tema, talvez lhe interesse saber o que fazer caso suspeite que afeta o seu filho. No último artigo, sugerimos que procure ajuda profissional em caso de dúvida. Embora não haja um tratamento que cure a HDA, há coisas que pode fazer e estratégias que pode adotar para facilitar a vida ao seu filho (e a sua também).
Não é raro que uma criança com HDA consiga focar-se numa atividade em particular que seja da sua preferência, pelo que não minorize os outros sinais, caso existam, só porque ele até consegue ficar uma hora vidrado na televisão. Nunca é demais referir que se o seu filho simplesmente tem muita energia, ele pode apenas ser uma criança com poucas oportunidades de a libertar, sem que isso signifique que é hiperativo. Há inclusive estudos que sugerem uma associação entre a HDA e a exposição excessiva e precoce a ecrãs (televisão, tablets, etc) - atenção que estes estudos não são conclusivos, mas há uma lógica inerente, já que, por um lado, ver televisão não gasta energia e a mesma vai ter de ser libertada noutros momentos possivelmente menos apropriados; por outro lado, há atividades mentalmente mais desafiantes e estimulantes do que ver televisão ou jogar no tablet. Novamente, não significa que o seu filho seja hiperativo, mas se não gosta da forma como ele liberta energia ou se o acha pouco focado, experimente tirá-lo mais de casa, envolvê-lo em mais atividades e em desportos e pô-lo a ler livros, resolver puzzles, fazer jogos de cálculo e mentais. E claro que quase não precisamos de referir que sim, a quantidade absurda de açúcar ingerida pelos miúdos hoje em dia contribui para uma maior agitação e desconcentração, pelo que também deveria diminuir as quantidades de açúcar que ele ingere (aqui não contam só os ocasionais bolos e rebuçados das festas de aniversário, mas também e sobretudo o açúcar diário contido nos iogurtes, leites com chocolate, papas, cereais de pequeno-almoço, pães de leite, bolachas, etc - mesmo as que dizem ser apropriadas para crianças).
Caso haja mesmo um diagnóstico saiba que, embora exista um número infindável de intervenções que prometem resultados em crianças e jovens com HDA (terapia ocupacional, explicações académicas, psicoterapia e mesmo dietas específicas), as únicas intervenções que já demonstraram ser eficazes foram a medicamentosa e a comportamental, preferencialmente numa combinação das duas. Talvez não fosse preciso, mas salientamos que existem riscos em iniciar apenas uma intervenção química: habituação (que pode levar à necessidade de doses cada vez maiores para obter os mesmos resultados) e a não alteração quer do meio quer dos comportamentos em si, já que os medicamentos dificilmente levam à aprendizagem dos comportamentos adequados que devem substituir os desadequados (ou seja, os comportamentos desajustados podem diminuir em quantidade pois há uma intervenção química nesse sentido, mas isso não significa que aumentem os comportamentos esperados, pois continuam a não ser aprendidos). Aliada a uma intervenção comportamental, esta aprendizagem existe, podendo mais tarde a medicação ser reduzida ou mesmo dispensada. E claro que se pretender evitar medicação, somos a favor de experimentar apenas intervenção comportamental.
O que este tipo de intervenção faz é, sobretudo, reorganizar o meio em que a criança se insere (quer na escola, quer em casa) e ensinar pais e professores a lidar com a criança em questão: as instruções dadas devem ser simplificadas, diretas, curtas e precisas; deve haver consequências positivas imediatas para os comportamentos que se pretende aumentar e, eventualmente, se necessário, consequências negativas igualmente imediatas para os comportamentos que se pretende diminuir. A importância da imediatidade é simples: devido aos variados comportamentos (que num hiperativo ocorrem com maior frequência e variabilidade do que numa criança sem o distúrbio), bem como à dificuldade que um hiperativo tem geralmente em assimilar, processar e armazenar a informação, “prometer” recompensas e conversar sobre o assunto não funciona. Quando a tal recompensa chegar (se chegar), ela já não vai estar diretamente associada aos comportamentos pretendidos, já que ao longo do dia podem ter ocorrido vários comportamentos “bons” e vários “maus” - é suposto uma criança com dificuldade ao nível do processamento da informação perceber que recebeu uma recompensa por x e não por y? É mais provável que a contingência se perca e que o que aconteça seja que hoje haja 5 comportamentos bons e 6 maus, e amanhã 7 bons e 4 maus, e a consequência seja exatamente a mesma, apesar de ter havido um desempenho geral melhor. Esta falta de precisão e de consistência numa cabeça que já é desorganizada trará poucos resultados. Por este motivo, um sistema de motivação, entre outras estratégias delineadas por um profissional da área comportamental poderá funcionar melhor do que um simples sistema de castigo-e-recompensa usado com outra criança qualquer. Se o cérebro destas crianças não funciona exatamente como o de uma criança sem o distúrbio, então é pouco provável que o mesmo sistema de consequências funcione com elas.
Se necessitar de ajuda, quer com um diagnóstico quer com estratégias, contacte-nos!
Catarina Carrapiço, Ms, BCBA
Psicóloga Clínica e Analista Comportamental