Vamos imaginar uma rapariga. Vamos chamar-lhe Ana. Vamos dar-lhe uma identidade – tem 23 anos, tem namorado, acabou o curso e está à procura do primeiro emprego. Vamos arranjar-lhe um problema – a Ana sofre de ansiedade. O que é que isto significa? A Ana vê o seu bem-estar alterado por um problema mais forte do que ela, por algo que não consegue controlar. Sofre de um transtorno que não é compreendido pela maioria das pessoas, embora se estime que já afete cerca de 30% da população portuguesa, de uma forma ou de outra. O que se passa com a Ana, afinal?
Para a maioria das pessoas, a sensação de ansiedade é familiar, pois a maioria de nós já sentiu nervosismo nalgum momento da vida – antes de um exame importante, numa entrevista de emprego, a falar para dezenas de pessoas. São momentos importantes perante os quais algumas pessoas não ficam nervosas, mas a maioria fica, o que torna esta sensação natural, desde que não seja incapacitante. E a questão é exatamente esta – a ansiedade, enquanto perturbação, é incapacitante.
Neste artigo falamos-lhe de ansiedade generalizada, embora existam vários tipos de ansiedade. Alguns deles, como a ansiedade social e fobias específicas, serão explorados noutros artigos. A Ana sofre de ansiedade generalizada, o que significa que sente uma espécie de medo irracional de algumas coisas, ou daquilo que parece, por vezes, de coisa nenhuma, de tudo e de nada. A Ana não é uma pessoa medrosa, isso é outra coisa. Para ler sobre o medo, espreite este artigo (Quem tem medo compra… um analista comportamental). O medo é normal, esperado, saudável, adaptativo. Não é esmagador, não é constante e não deixa a pessoa numa sensação de alerta constante. O medo gera respostas que nos permitem defendermo-nos numa situação perigosa; a ansiedade gera mecanismos que nos levam a evitar situações que interpretamos como perigosas. Este perigo, contudo, não costuma ser real. A Ana também não é, necessariamente, uma pessoa stressada, já que o stress e a ansiedade podem andar de mãos dadas mas não são a mesma coisa. Uma pessoa pode começar a sofrer de ansiedade por ter estado numa situação de stress ou por ter experienciado stress de forma acumulada ao longo do tempo; no entanto, a ansiedade não depende disto.
Em situações ansiogénicas, a Ana pode sentir e fazer várias coisas, que vamos dividir em sintomas físicos, comportamentos e pensamentos ou interpretações feitas por ela.
Sensações físicas:
- Ritmo cardíaco acelerado, possíveis taquicardias
- Respiração acelerada ou dificuldade em respirar
- Dor de barriga, má disposição, diarreia
- Sensação de aperto no peito ou no estômago
- Boca seca
- Tremores (mãos, pernas, boca, voz)
- Palmas das mãos suadas
- Vermelhidão nas faces
- Calor
- Tensão muscular excessiva
Pensamentos:
- O pensamento de que toda a gente vai reparar e achar que aquilo não é normal
- Achar que tem de esconder a ansiedade
- Comparar-se com os outros, fazendo auto avaliações negativas constantes
- Sentir-se incapaz de enfrentar diversas situações
- Antecipar a situação e todas as consequências negativas que pode ter
- Planear exatamente o que vai dizer e como vai agir
- Incapacidade de tomar decisões e de se concentrar, podendo mesmo esquecer-se de coisas que sabe
- Medo do futuro e do incerto
- Sensação de estar sobrecarregada, de que tudo o que acontece é demasiado difícil de gerir
Comportamentos:
- Evitamento das situações que despertam ansiedade
- Tiques
- Hiperatividade ou paralisação
- Explosões emocionais (rir, chorar)
- Comer em excesso ou recusar comida
- Falar rápido ou entre dentes
- Abuso de substâncias
A maioria destes sintomas surge em situações em que a pessoa está em contacto com o que despoleta a ansiedade. O evitamento, contudo, é o “modus operandi” da pessoa ansiosa. Porque funciona como reforço negativo (se leu este artigo sabe do que estamos a falar). Ao evitar as situações que geram ansiedade, surge alívio e tranquilidade momentânea; a voz não chega a tremer, o coração não chega a parecer que vai saltar do peito. No entanto, na próxima ocasião os sintomas estarão todos lá na mesma, provavelmente mais agravados, pois a ausência deles é agora ainda mais reforçante.
No que respeita à ansiedade mais generalizada, esta verifica-se sobretudo numa sensação constante de insegurança, de tensão e de alerta. Pensa-se sobre o futuro imediato, sobre o futuro longínquo, analisa-se minuciosamente cada situação, há uma tendência exagerada para ter controlo sobre tudo, há negativismo e inseguranças frequentes. A tendência é para haver uma seleção inconsciente dos estímulos e experiências negativas que nos rodeiam e para nos focarmos nestes, independentemente da quantidade de experiências positivas que também já tenham existido. A ansiedade é irracional. Não raramente, há ataques de pânico, momentos em que os sintomas físicos são tão exacerbados que são frequentemente confundidos com os de um ataque cardíaco. As dores no peito e a falta de ar podem surgir em circunstâncias que já se adivinham ansiogénicas (como estar sozinho – “e se eu morro aqui e ninguém vê?”) ou em momentos aparentemente tranquilos.
A boa notícia para a Ana (e para si, quem sabe?) é que a ansiedade pode ser ultrapassada, pelo menos a níveis que lhe permitam ter qualidade de vida. A intervenção comportamental passa por analisar os comportamentos que constituem a ansiedade de cada pessoa bem como os antecedentes e as consequências dos mesmos e por criar estratégias para mudar estas contingências e transformá-las em algo aceitável e cada vez mais fácil de lidar para o indivíduo. Independentemente de ser ansioso porque o aprendeu (resultado de experiências que teve) ou porque é biologicamente vulnerável à ansiedade (fatores genéticos), estamos aqui para ajudar caso queira ver a sua qualidade de vida (ou a de alguém que conhece) a melhorar. Contacte-nos. E se quiser saber mais sobre ansiedade social em particular, não perca o próximo artigo… porque nós também não!