As relações entre irmãos são das mais complexas que podemos vivenciar ao longo da vida.
Um irmão pode, facilmente, ser a pessoa que nos é mais próxima desde os primeiros tempos da nossa existência e, ao mesmo tempo, ser aquela com quem temos mais conflitos.
Esta ambivalência é natural mesmo quando falamos de duas pessoas com um desenvolvimento normal. E se uma delas não o tiver?
Ter um irmão com uma perturbação no desenvolvimento pode afetar a harmonia familiar com maior facilidade do que acontece numa família em que nenhum dos irmãos tem características que o diferenciam em relação ao que seria esperado para a sua faixa etária.
A adaptação de uma família com um filho diferente é sempre mais exigente a vários níveis – pessoal, profissional, financeiro, social. É importante que aceite isso, que deixe que o seu outro filho veja isso e que o compreenda desde o início.
É natural que tenha menos tempo para os seus outros filhos, que por vezes se sinta cansado ou mesmo exausto física e emocionalmente e que esteja emocionalmente menos disponível. Gerir a vida familiar torna-se mais difícil com estas variáveis. Porém, não coloque em segundo lugar a relação entre os seus filhos.
Lembre-se, acima de tudo, que o seu filho que tem um desenvolvimento normal será um pilar na vida do outro, muito tempo depois de os pais já não poderem prestar o apoio de que ele pode necessitar. É essencial, para tal, que ajude o seu filho a compreender qual o seu papel, a gerir as expetativas que tem em relação ao irmão e a estabelecer uma relação funcional e harmoniosa entre eles.
No geral, no fundo, qualquer pessoa deveria ser educada para a diferença. As dicas que deixamos são, portanto, nesse sentido. Quer tenha um filho diferente quer não, existe uma responsabilidade social de todos nós que passa por dar essa educação aos nossos filhos.
- A forma como reage perante uma pessoa diferente servirá de modelo para o seu filho. Evitar o contacto e as interações com pessoas diferentes e não falar sobre o assunto em casa torna este assunto num assunto tabu. Se tem um filho diferente, evitar estar com ele em certos locais, perante certas pessoas, ser demasiado protetor, ajudá-lo em demasia – são tendências que o irmão pode ganhar.
- Explique-lhe desd
e cedo o que pode haver de diferente nas pessoas, que limitações podem ter e como deve agir com elas. Não existe cedo demais para ter esta conversa, sobretudo se tiver um filho diferente; precisa apenas de adequar a linguagem que usa à idade e ao nível de compreensão do seu outro filho. Pode explicar-lhe que o irmão aprende algumas coisas mais devagar e que pode precisar de ajuda para fazer coisas que para nós são muito fáceis – e que, mesmo assim, ele não deve ser sempre ajudado a fazer tudo, para que possa aprender a fazer sozinho. No caso de existir uma doença ou uma condição mais permanente, explique-lhe que infelizmente não podemos fazê-la desaparecer, mas podemos ajudá-lo a aprender cada vez mais coisas.
- Ainda no caso de estarmos a falar dos seus filhos, pode explicar-lhe que é por esta dificuldade em fazer coisas que para nós são fáceis que a mãe e o pai às vezes lhe dão mais atenção ou parecem mais preocupados com ele. É natural que uma criança que tem um irmão diferente sinta que tem menos atenção e é importante evitar ciúmes que associem o irmão a uma situação negativa (perder atenção dos pais). Certifique-se que o seu filho se sente parte da solução, que tem o seu lugar na família bem estabelecido e que tem atenção também só para ele (não vale compensá-lo fazendo-lhe as vontades todas ok?). Não o sobrecarregue com responsabilidade em relação ao futuro – se tiver sido criada uma boa relação entre irmãos, esta virá naturalmente. Assumir um papel protetor perante alguém que precisa de nós é algo bastante natural e inato ao ser humano.
- Outro aspeto importante será saber como agir perante comentários, perguntas e olhares de estranhos. Para quem convive diariamente com um irmão diferente, é importante saber que as pessoas tendem a olhar porque não compreendem o que se passa e por vezes evitam o contacto com as pessoas diferentes porque não sabem como agir.
No fundo, eduque o seu filho para a diferença. As pessoas no geral não têm esta educação a menos que precisem ou que trabalhem na área.
Se o seu filho compreender que podem existir diferenças em vários aspetos entre as pessoas, e se souber o que deve fazer perante as mesmas, estará não só a educá-lo para encarar a situação de forma natural mas também a criar um ser humano melhor.