Coisas que devo saber sobre a Dislexia

opt_Dyslexia-Support-Lindsey-LA palavra “dislexia” é conhecida por todos mas usada em demasia. Todos nós já ouvimos alguém dizer “sou um bocado disléxico!”, com um sorrisinho, por se ter enganado a escrever uma palavra que nunca sabe se é com s ou com c. A verdade é que a dislexia é uma perturbação crónica da aprendizagem, que tem por base alterações genéticas e neurológicas. A dislexia afeta estimadamente cerca de 5% da população portuguesa em idade escolar, sendo que a percentagem de disléxicos dentro da população com dificuldades de aprendizagem aproxima-se dos 50%. Não é burrice, não acontece porque uma criança não foi exposta a conteúdos académicos até ser tarde demais e não é resultado da falta de interesse da criança em questão. Não se é disléxico porque transferirse escreve “caçar” com dois ésses, nem porque se escreve “chover” com u. Não se era disléxico quando se era pequeno e entretanto passou, porque a cronicidade desta perturbação faz com que algumas dificuldades se mantenham pela vida fora; não se é disléxico por confundir a esquerda com a direita, e certamente não estamos disléxicos quando nos enganamos a ler. O uso gratuito desta expressão denuncia a ausência de conhecimento que existe sobre esta perturbação, bem como sobre as consequências que pode ter. Associadas à dislexia, e além dos sintomas principais, podem vir consequências como o não gostar da escola, a perda de interações sociais positivas e de oportunidades de aprendizagem, problemas comportamentais (oposição, desobediência, ser o palhacinho da turma), ansiedade, embaraço social ao ter de ler em público algo tão simples como o menu de um restaurante. Embora o diagnóstico seja difícil antes da idade escolar, já que por norma é nesta altura que se aprende a ler e a escrever, há sinais a que os pais e os educadores podem estar atentos, tais como:

  • atraso no desenvolvimento da linguagem
  • dificuldade em aprender canções infantis, rimas e lenga-lengas
  • dificuldade em pronunciar certos sons
  • dificuldade em reconhecer letras e números

Em idade escolar, os sinais são muitos mais e mais variados:

  • dificuldades na leitura e escrita, em memorizar letras e respetivos sons e na divisão silábica e fonética das palavras
  • velocidade de leitura baixa para a idade
  • dificuldade em compreender o que lê
  • dificuldades na leitura automática (global) das palavras
  • erros ortográficos frequentes
  • leitura silabada, hesitante e com erros constantes, que podem incluir adição, substituição ou omissão de sílabas e letras
  • possível confusão entre letras com grafia similar (p,q,d,b…), mas sobretudo trocas fonológicas e lexicais – trocar o j pelo ch, o z pelo j, o m pelo n…

As crianças disléexemplo_01xicas não são burras, podendo até ter um desempenho intelectual acima da média noutras áreas. Infelizmente, dado que a maioria dos conteúdos escolares nos são apresentados por escrito, pode imaginar como esta dificuldade afetará rapidamente todas as áreas. A par disto, juntamente com a dislexia podem vir outras perturbações que afetam sobretudo a escrita (disgrafia / disortografia) e as competências matemáticas (discalculia).

Há pessoas que vivem com esta perturbação durante anos e com algum sucesso escolar até receberem um diagnóstico porque, muito provavelmente, aprenderam a usar a informação que lhes era apresentada oralmente; para outras pessoas o insucesso constante leva a uma desmotivação tão grande que desistir é a opção mais fácil.

Se identificou alguns destes sinais no seu filho ou num dos seus alunos, a primeira coisa que deve fazer é procurar um diagnóstico. Depois disto, será orientado para o trabalho necessário a realizar. A taxa de sucesso da intervenção precoce em casos destes é bastante elevada, mas diminui drasticamente com o passar dos anos. No próximo artigo poderá ficar a conhecer estratégias utilizadas para ultrapassar algumas dificuldades causadas pela dislexia.

Para mais sinais de dislexia, exemplos de erros e outras informações úteis contacte-nos.

Catarina Carrapiço, Ms, BCBA
Psicóloga Clínica e Analista Comportamental