“Mãe, fiz xixi nas cuecas”

“Mãe, fiz xixi nas cuecas”


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Quando se tem filhos, há marcos do desenvolvimento que não passam despercebidos e as comparações com as outras crianças são inevitáveis. O primeiro gatinhar, os primeiros passos, a primeira palavra, o primeiro cocó na sanita. Os filhos dos outros fazem e os nossos não - e será que é normal? Será um atraso? Devo preocupar-me? Vamos ao pediatra? Antes de mais nada, relaxe. Se achar que já passou tempo demais, então sim, vá ao pediatra, nem que seja para ficar descansado - sabia que a ansiedade se transmite de pais para filhos? Pode haver uma causa fisiológica para o atraso e é bom fazer esse despiste. Um dos sinais de que pode haver um problema ao nível do controlo de esfíncteres é a fralda não permanecer seca por algum tempo. Se estiver sempre um pouco molhada, é possível que haja um problema fisiológico, pelo que deve pedir a opinião do pediatra ou de um especialista. Se não houver nenhum problema, pode ajudar o seu filho a superar o espaço temporal que o separa de outras crianças e a chegar onde já podia estar.

Se o seu filho insiste em não trocar a fralda pela sanita, ficam algumas dicas para ensiná-lo.

  • Não o repreenda, nunca. Pode ser realmente difícil para o seu filho usar a sanita (aqui é importante a ida ao pediatra ou a uma especialidade que permita avaliar o controlo de esfíncteres do ponto de vista fisiológico); vai associar a aprendizagem ou mesmo a sanita a algo aversivo, quando o que quer fazer é o oposto; a sua repreensão, por não ser utilizada em conjunto com o reforço positivo dos comportamentos apropriados, não vai funcionar como gostava - não vai funcionar de todo.
  • Tire-lhe a fralda durante o dia. Enquanto puder fazer na fralda, não faz sentido que vá usar a sanita. E prepare umas boas mudas de roupa, sobretudo se saírem de casa, já que é provável que vão precisar.
  • Comece pelo mais fácil - o xixi. O que quer fazer é associar a sanita a algo positivo e o comportamento de utilizá-la também. Facilita-lhe a vida, e ao seu filho desfralde3também, se ele tiver mais oportunidades de treino. Pense: se pegar numa raquete para aprender a jogar ténis e bater uma vez por dia na bola, vai evoluir tanto como se puder bater dez vezes? Isto aplica-se a todas as aprendizagens - a prática faz a perfeição! Certifique-se que o seu filho bebe mais água do que o normal (isto não vai fazer-lhe mal; ele provavelmente bebe menos água do que o necessário). Se ele não gostar de beber água ou se a recusar, não é o momento certo para insistir; dê-lhe outros líquidos - sumos naturais, chás (infusões, sem teína - informe-se com o seu pediatra acerca do que ele pode beber), sopa, leite. Ao aumentar a quantidade de líquidos que o seu filho ingere, vai também aumentar a necessidade que ele tem de eliminar líquidos e, como tal, o número de oportunidades de treino.
  • Leve-o à casa-de-banho, não espere que ele peça. Pedir para ir fazer xixi é outro comportamento que ele não tem necessariamente de aprender em simultâneo. Leve-o a cada 30 minutos, ou em intervalos ainda mais curtos, se necessário. É claro que é um exagero e ninguém vai à casa-de-banho a cada 30 minutos. Mas precisa de diminuir as probabilidades de ele fazer xixi nas cuecas. Se é um comportamento que nunca teve (porque até agora fazia na fralda), também não queremos que comece a tê-lo. Se o levar à casa-de-banho a cada 30 minutos e no intervalo ele fizer xixi nas cuecas, experimente ir a cada 20 minutos, ou mesmo a cada 15 minutos. Novamente, sim, é um exagero - a ideia não é ele fazer xixi sempre que vai à casa-de-banho, mas sim ter mais oportunidades para fazê-lo. Não lhe pergunte se quer fazer xixi - leve-o e sente-o na sanita (ou no bacio, também pode ser).
  • Se ele não fizer xixi, não há problema; encha-se de paciência e volte dali a 5 ou 10 minutos (menos do que o intervalo inicial estipulado). Se ele fizer xixi, faça uma festa, levante-o no ar, dê a cambalhota, bata palmas - o importante é que este comportamento seja associado a algo positivo. Se a criança em questão tiver um atraso no desenvolvimento, associado a uma perturbação ou não, a interação social pode não ser um reforço forte o suficiente e pode ser necessário utilizar um reforço menos natural, como um vídeo no iPad ou mesmo uma guloseima (não se preocupe, é temporário). Voltem à casa-de-banho dali a 30 minutos (ou o intervalo que estipulou inicialmente). Estes intervalos devem ser aumentados gradualmente (5 minutos de cada vez, por exemplo) à medida que a criança for tendo sucesso (fizer xixi na sanita e não nas cuecas).
  • Se houver um acidente (se ele fizer xixi nas cuecas), não mencione o que aconteceu, não o repreenda, não fale com ele de todo e vão trocar de roupa sem qualquer comentário (ajude-o apenas o essencial a limpar-se e mudar de roupa, para que algum custo fique associado a este comportamento).
  • Esqueça o xixi durante a noite, é outra história. Se a criança não está consciente, dificilmente irá aprender a não fazer xixi durante o sono. Este é um processo que por norma ocorre naturalmente com a maturação fisiológica e neurológica. Pode colocar-lhe a fralda para dormir. Nunca o repreenda e, novamente, se as outras crianças na mesma faixa etária já não o fazem, vá ao pediatra.
  • Quanto ao cocó, o treino pode ser mais difícil, já que as oportunidades para tal são muito menos. Após aprender a utilizar a casa-de-banho para fazer xixi, a maioria das crianças com um desenvolvimento normal utiliza-a para fazer cocó. Se tiver problemas, tem a vida facilitada se conseguir identifimagesicar uma rotina no funcionamento intestinal do seu filho. Se ele faz cocó depois do jantar, é este o momento para o treino; leve-o a cada 30 minutos (por exemplo), fiquem na sanita 5 minutos, se fizer reforce-o, se não fizer saiam e voltem dali a 15 minutos, e por aí fora.

Este processo pode ser rápido ou pode demorar semanas. Tenha paciência e seja consistente - nada de fraldas quando saírem de casa, nada de repreensões se houver um acidente, e nada de parar tudo de repente por estar a correr lindamente - ou por não estar a correr bem. Pode demorar até acertar os intervalos das idas à casa-de-banho até que não haja acidentes, mas não desista. Vai compensar quando perceber que ajudou o seu filho a superar mais uma barreira!

Catarina Carrapiço, Ms, BCBA
Psicóloga Clínica e Analista Comportamental

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